domingo, 17 de novembro de 2013

Carta aos Hebreus

CARÁTER E OBJETIVO DA EPÍSTOLA
No prólogo da chamada Epístola aos Hebreus (Hb) lemos: “Havendo Deus, outrora, falado... pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (1.1-2). Sobre este testemunho de fé, ponto permanente de referência para a totalidade do escrito, o seu autor estabelece desde o próprio começo o fundamento teológico da exposição que irá abordar em seguida. O seu objetivo é proclamar a universal supremacia de Jesus Cristo, a Palavra de Deus encarnada na realidade imediata do ser humano (cf. Jo 1.14).
No entanto, o caráter de Hebreus é principalmente exortatório. Assim é como o autor o concebe (13.22), que ao longo de toda a carta entrelaça os ensinamentos teóricos com conselhos e recomendações práticas, a fim de garantir a fé dos seus leitores cristãos em meio aos desalentos, temores e sofrimentos da vida presente.


TEOLOGIA DE HEBREUS
O discurso teológico de Hebreus se desenvolve através de uma constante valorização do sentido do Antigo Testamento à luz da pessoa e da obra de Jesus, o qual, mediante o seu sacrifício na cruz, traz a salvação ao mundo (Jo 3.16-17). Em Cristo, Deus culmina a sua revelação, a qual já antes havia iniciado ao falar “de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas” (1.1); porque Cristo é a Palavra eterna, a mesma Palavra dita por Deus aos antepassados.
A Epístola aos Hebreus põe em destaque o caráter único de Jesus, o Filho de Deus, e a sua categoria superior a qualquer outra (1.2-4), seja dos anjos (1.4—2.18), de Moisés (3.1—4.13) ou do sacerdócio levítico (4.14—7.28). Somente Jesus é o “grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (4.14) e que, por meio do seu sangue, nos abriu um novo e vivo caminho “para entrar no Santo dos Santos” (10.19-20).
Perante a lei de Moisés e o culto da antiga aliança, com o seu complicado cerimonial e os seus sacrifícios, Cristo entrega o seu próprio corpo como oferta feita “uma vez para sempre” (9.26-28; 10.10,14). Desse modo, se constitui em “fiador” (7.22), isto é, em penhor e garantia de uma aliança nova e definitiva.
Um grande espaço de Hebreus está dedicado à descrição do sistema de culto e à instituição sacerdotal de Israel, para assinalar as suas limitações e a sua caducidade (7.18-19,23,27-28; 8.13; 9.9-12; 10.1) e para contrapô-los com a pessoa de Jesus Cristo, cuja morte profética se deu para resgatar do pecado; somente nela é que o sacerdócio levítico, as ofertas e os sacrifícios rituais prescritos pela lei mosaica alcançam a plenitude do seu sentido.
Jesus Cristo é o Sumo sacerdote perfeito, a quem Deus constituiu, “não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel... sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (7.16-17). Cristo é o único que, “com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (10.14).
Na medida em que desenvolve o seu pensamento, o autor de Hebreus vai anotando recomendações e advertências concretas, de aplicação atual para a vida dos crentes, de tal modo que em nenhum momento se perde a índole exortatória do texto. Ver a esse respeito as seguintes passagens: em umas se previne contra a infidelidade, a apostasia, a desobediência e a recaída no pecado (2.1-4; 3.7-19; 4.11-13; 5.11—6.20; 10.26-39); em outras se anima a manter firme a fé e não desanimar (10.19-25; 12.1-13) e, em outras, se aconselha sobre a conduta cristã, a pureza da doutrina e a necessidade da intercessão fraternal (13.1-19,22).
As exortações que lemos nesta epístola sugerem que as comunidades cristãs para as quais foram originalmente redigidas estavam passando por situações conflituosas, em parte nascidas no seu próprio seio e em parte provocadas pela pressão moral do ambiente social. E não é, provavelmente, por ter havido casos concretos de perseguição, mas sim que se estava sentindo nas igrejas uma certa hostilidade do meio social (12.1-2,4). De qualquer maneira, devido a uma ou a outra causa, o certo é que alguns crentes estavam caindo no desânimo e abandonando a sua fé (2.1-4; 5.11—6.12; 10.23-27,32-39; 12.1-29).


AUTOR E GÊNERO LITERÁRIO
Este escrito do Novo Testamento tem sido tradicionalmente chamado de Epístola aos Hebreus. No entanto, a sua redação não corresponde ao gênero epistolar: falta uma apresentação do autor, não indica destinatário e somente na conclusão menciona Timóteo antes de incluir umas rápidas saudações (13.23-25). Sobre a menção “aos Hebreus”, que figura exclusivamente no título e não é parte do texto, o seu caráter é tão geral, que não permite a menor identificação dos assim designados.
O autor demonstra ser um profundo conhecedor do Antigo Testamento, cujo texto cita sempre da tradução grega conhecida como LXX ou Versão dos Setenta (LXX). O seu domínio desse idioma lhe permitiu redigir, talvez por volta do ano 70, nossa Epístola aos Hebreus, que é, sem dúvida, o documento estilisticamente mais depurado de todo o Novo Testamento.



ESBOÇO:
Prólogo: Deus tem falado pelo seu Filho (1.1-4)
1. A superioridade do Filho (1.5—4.13)
a. O Filho, superior aos anjos (1.5—2.18)
b. O Filho, superior a Moisés (3.1—4.13)
2. Jesus, o grande Sumo sacerdote (4.14—10.18)
a. O Filho, superior ao sacerdócio de Arão (4.14—7.28)
b. Jesus, mediador de uma nova aliança (8.1—10.18)
3. Fé e fortalecimento no sofrimento (10.19—12.29)
a. Exortação à fidelidade (10.19—11.40)
b. “Olhando para Jesus” (12.1-29)
4. A vida cristã (13.1-19)
Epílogo (13.20-25)

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