segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Carta aos Gálatas

GALÁCIA
A Epístola aos Gálatas (Gl) é uma preciosa fonte de informação sobre os primeiros passos do evangelho na Galácia. Graças a ela, sabemos da atividade desenvolvida por Paulo em uma região que cobria grande parte da zona central da Ásia Menor e que, desde o séc. I a.C., estava anexada ao Império Romano com a categoria de “província”.
Naquele tempo, a Galácia era povoada pelos descendentes de antigas tribos celtas (ou “galas”, de onde procede o nome do país) que três séculos antes haviam emigrado do centro da Europa. Algumas delas chegaram até a Ásia Menor, estabeleceram-se e, aos poucos, logo se espalharam pelos amplos territórios compreendidos nos limites da atual Turquia.
Fora da epístola, a Galácia é mencionada apenas cinco vezes no Novo Testamento (At 16.6; 18.23; 1Co 16.1; 2Tm 4.10; 1Pe 1.1). No entanto, apesar dessa escassez de notícias, é evidente a importância que teve para a história da igreja. Sabemos, pelo testemunho pessoal de Paulo, que ele ali anunciou Jesus Cristo (4.13), e não há dúvida de que também fundou um certo número de pequenas comunidades cristãs dispersas por toda a província.
Para essas igrejas redigiu a epístola. Mas não para uma comunidade em particular e determinada, mas para as da Galácia em geral (1.2), formadas por crentes que, na sua maioria ou, possivelmente, na sua totalidade, procediam do paganismo (4.8).


PROPÓSITO
Os crentes da Galácia, em princípio, mostraram uma grande satisfação por causa do evangelho; e, durante um tempo, haviam vivido a sua fé cristã com a mesma alegria e confiança com que também haviam recebido a presença do apóstolo (4.13-15). Mas, não muito depois, aquela primeira alegria e fervor parecia ter se esfriado (5.7), o que coincidiu com o surgimento de sérios problemas doutrinários entre eles. Por isso, Paulo se sentiu movido a escrever esta carta, na qual, por um lado, reprova a frágil fé dos gálatas e, por outro, denuncia as atividades de certos “falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus” (2.4).
Com essas e outras expressões duras (cf. 1.8-9; 5.10,12; 6.12-13), o apóstolo se refere a alguns grupos de origem judaica que percorriam igrejas recém-formadas e as confundiam com ensinamentos alheios e inclusive opostos ao evangelho e que, além disso, atacavam a sua autoridade e a legitimidade do seu apostolado (1.10-12).
Aqueles a quem Paulo chama de “falsos irmãos” tentavam convencer os gálatas de que o evangelho de Jesus Cristo, para ser perfeito, teria de ser submetido à lei de Moisés e manter em vigor determinadas práticas próprias do Judaísmo, principalmente a circuncisão (3.11-14; 5.1-6; 6.12-13). Eram, pois, judaizantes, os quais, pretendendo perpetuar a vigência de normas que em Cristo se tornaram superadas, impulsionavam os crentes para que se afastassem da “verdade do evangelho” (2.5), que é fundamento da “liberdade” concedida por Cristo (5.1).
Em seguida, Paulo advertiu a respeito do sério perigo que as congregações cristãs visitadas pelos judaizantes corriam. Compreendeu que se tratava de um perigo real, que afetava questões básicas para a fé e a vida da igreja e que vinha perturbar o sentido do único evangelho (1.7-9) da salvação por meio de Cristo.


CONTEÚDO E ESTRUTURA
A Epístola aos Gálatas está tematicamente relacionada com a de Romanos (ver a Introdução dessa última). Começa com uma apresentação do assunto de que irá tratar (1.1-10) e, ao contrário do costume de Paulo, não contém ação de graças nem expressão alguma que dê testemunho de um sentimento de alegre afeto. Consta simplesmente de um rápido início e algumas palavras de bênção e doxologia seguidas pelo enunciado principal da carta: Não há mais nenhum evangelho além do de Jesus Cristo.
A epístola está dividida em três seções: Na primeira (1.11—2.21), Paulo defende a autenticidade da mensagem do evangelho que havia pregado nas igrejas da Galácia (1.11-12). Desse modo, reivindica a legitimidade do seu trabalho de apóstolo chamado e enviado por Deus para anunciar Jesus Cristo entre os gentios (1.15-16). Refere-se também a alguns aspectos da sua vida e conduta: o seu anterior fanatismo judaico, que o levou a perseguir “sobremaneira (...) a Igreja de Deus” (1.13); o reconhecimento do seu ministério por parte dos apóstolos de Jerusalém (2.1-9) e a sua oposição a Pedro na Antioquia da Síria (2.11-14). Finalmente, põe em destaque o valor da fé, pela qual Deus justifica o pecador (2.15-21).
A segunda seção (3.1—5.12) começa com uma admoestação aos que haviam sido enganados com o cumprimento externo da lei e menosprezavam assim a graça de Deus (3.1-5). Em seguida, faz uma consideração sobre a fé do Patriarca Abraão (3.6), de como Deus fez com que as bênçãos e as promessas que havia feito a ele alcançassem os gentios (3.14,28-29) e qual é a vigência atual da lei mosaica (3.19-24; 4.1-7). O restante da seção (4.8—5.12) é um convite a permanecer “firmes” na liberdade que Cristo nos concedeu (5.1).
A terceira parte da epístola (5.13—6.10) consiste em uma exortação a fazer bom uso dessa mesma liberdade, a qual deve configurar a vida do cristão conforme a norma do amor: sendo “servos uns dos outros, pelo amor” (5.13) e levar “as cargas uns dos outros” (6.2). Esta é a “lei de Cristo” (6.2) e o caminho pelo qual o Espírito de Deus conduz a igreja (5.16-18,25). Nessa seção está incluído o catálogo de vícios e virtudes, melhor conhecido como “as obras da carne e o fruto do Espírito”.
A conclusão da epístola inclui algumas observações com o caráter de resumo (6.12-17), uma anotação de Paulo escrita do seu “próprio punho” e letra (6.11) e uma breve bênção final (6.18).


DATA E LUGAR
Provavelmente, Paulo tenha redigido a Epístola aos Gálatas em Corinto, entre os anos 55 e 60, pouco antes ou pouco depois de ter escrito aos cristãos de Roma.


ESBOÇO:
Prólogo (1.1-9)
1. O Evangelho anunciado pelo apóstolo (1.10—2.21)
a. Recebido mediante revelação direta de Jesus Cristo (1.10-24)
b. Reconhecido pelos líderes da igreja de Jerusalém (2.1-14)
c. Centraliza-se na justificação pela fé em Cristo (2.15-21)
2. O Evangelho da graça de Deus e a liberdade cristã (3.1—5.12)
a. A suficiência da fé (3.1-14)
b. A relação entre lei e promessa (3.15-29)
c. Demonstração de que a salvação é obra da graça de Deus (4.1-31)
d. Exortação a permanecer firmes na liberdade (5.1-12)
3. O uso da liberdade cristã (5.13—6.10)
a. O correto uso da liberdade cristã (5.13-25)
b. A vida no Espírito (5.26—6.10)
Epílogo (6.11-18)

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