Uma vez que o evangelho é a mensagem
de Deus ao homem, nós poderíamos supor que ele deve evocar algum tipo de reação
ou demandar algum tipo de resposta. Do nosso texto, aprendemos que, ao ouvirem
o evangelho, a igreja em Corinto tanto o recebeu de forma apropriada ao seu
grande valor, quanto fez dele o fundamentos sobre o qual estavam firmes diante
de Deus. Para estarmos corretos diante de Deus, devemos fazer o mesmo.
Recebendo o evangelho
Para que homens sejam salvos, eles
devem, pela graça de Deus, receber o evangelho. Mas o que isso significa? Não
há nada extraordinário na palavra receber em
português ou no grego bíblico, mas, no contexto do evangelho, ela se torna
extraordinária – umas das palavras mais radicais na Escritura.
Primeiro, quando duas coisas são
contrárias ou diametralmente opostas uma as outras, receber um deles é rejeitar
o outro. Já que não há afinidade ou amizade entre o evangelho e o mundo,
receber o evangelho é rejeitar o mundo. Isso demonstra como quão radical o ato
de receber o evangelho pode ser. Receber e seguir o chamado do evangelho é
rejeitar tudo o que pode ser visto com os olhos e, em troca, segurar em suas
mãos tudo o que não pode ser visto[1]. É rejeitar a autonomia pessoal e o
direito de se autogovernar para se escravizar a um Messias que morreu dois mil
anos atrás como um inimigo do Estado e um blasfemador. É rejeitar a maioria e
seus pontos de vista a fim de juntar-se a uma minoria censurada e aparentemente
insignificante conhecida como a igreja. É arriscar tudo nesta singular e única
vida na crença que esse profeta crucificado é o Filho de Deus e o Salvador do
mundo. Receber o evangelho não é meramente orar convidando Jesus para entrar em
seu coração, mas é deixar o mundo de lado e abraçar plenamente as
reivindicações de Cristo.
Segundo, o indivíduo que recebe o
evangelho confia exclusivamente na pessoa e obra de Jesus Cristo como a única
forma de estar correto diante de Deus. É uma máxima comum que confiar em
qualquer coisa de forma exclusiva é perigoso, ou, na melhor das condições, algo
muito imprudente de ser feito. Nossa sociedade considera como descuidada uma
pessoa se ela não tiver um plano reserva ou uma rota de fuga, se ela não
diversificou seus investimentos, se ela colocou todos os seus ovos em uma mesma
cesta ou se ela fecha portas atrás de si e joga a chave fora. Contudo, essa é
exatamente a atitude que a pessoa que recebe Jesus Cristo deve ter. A fé cristã
é exclusiva. Receber verdadeiramente a Cristo é jogar fora toda e qualquer
esperança que não seja em Cristo somente. É por essa razão que o apóstolo Paulo
declara que o cristão é de todos os homens o mais digno de pena se Cristo for
uma farsa.[2] Se ele não é o Salvador, então o cristão está perdido, pois não
tem nenhum outro plano ou confiança. Pela fé, ele declarou: “Meu Senhor, em Ti
confio. Se Tu és incapaz ou não desejas salvar-me, então encontrarei meu lugar
no inferno. Não farei para mim nenhum outro recurso!”
Um receber genuíno do evangelho não só
envolve um desdém e abandono do pecado, mas também um desdém e abandono de
qualquer confiança que não seja Cristo, especialmente a confiança em si
próprio. É por essa razão que uma pessoa realmente convertida ficará
praticamente nauseado com a menor sugestão de que seu correto posicionamento
diante de Deus possa ser um produto de seu próprio mérito e virtude. Embora sua
nova vida em Cristo produza boas obras, ela se desvencilhou de qualquer
esperança em achar nas boas obras um meio de salvação e, portanto, confia
exclusivamente na pessoa e perfeita obra de Cristo.
[1] Hebreus 11.1, 7, 27; 1 Pedro 1.8
[2] 1 Coríntios 15.19
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