Quando deixar o julgamento com Deus
Para
entendermos o que estava acontecendo quando o povo de Israel destruiu as
cidades de Canaã e matou seus habitantes, precisamos retornar a aproximadamente
1.500 anos antes da invasão dos israelitas. Em Gênesis 15.13 e 16, Deus havia
dito a Abraão: “A tua posteridade será peregrina em terra alheia [Egito], e
será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.... Na quarta
geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a
medida da iniqüidade dos amorreus.
O
retorno dos israelitas à terra prometida, provenientes do Egito, corresponderia
com o enchimento da medida da iniqüidade dos amorreus. Este é o significado do
massacre dos povos de Canaã. Deus fixou o tempo da chegada do julgamento em
harmonia com a plenitude do pecado a ser julgado. Não antes. Deus não faz as
coisas antes do tempo certo. De fato, Ele se mostrara longânimo, suportando
durante muitos séculos a idolatria e os pecados daqueles povos, dando-lhes
“chuvas e estações frutíferas”, enchendo-lhes o coração “de fartura e de
alegria” (Atos 14.17). Conforme disse Derek Kidner: “Até que fossecorreto invadir,
o povo de Deus teria de esperar, ainda que isso lhes custasse séculos de
dificuldades. [Gênesis 15.16] é uma das afirmações centrais do Antigo Testamento”
(Genesis, Downers
Grove: InterVarsity Press, 1967, p. 125).
Mas
chega o tempo em que o pecado de um povo se torna “completo”. Esse é o tempo
para o julgamento decisivo. O instrumento designado por Deus foi o exército de
Israel. Mas Deus vê a Si mesmo como o
guerreiro e juiz eficaz que estava por trás da derrota dos amorreus. Ele disse
a Josué: “Eu vos trouxe à terra dos amorreus... os quais pelejaram contra vós
outros; porém os entreguei nas vossas mãos, e possuístes a sua terra; e os destruí diante de vós” (Josué 24.8). Deus realizou a destruição. Esta ocorreu pelas
mãos de Israel, mas foi o julgamento de Deus. Isto não significa que o motivo
de Israel era sempre puro. Às vezes, não o era. Mas os justos propósitos de
Deus estavam sendo realizados, embora, às vezes, Israel tivesse motivos
errados.
De fato, Deus advertiu o povo
contra o orgulho impiedoso: “Quando, pois, o senhor, teu Deus, os tiver lançado
de diante de ti, não digas no teu coração: Por causa da minha justiça é que o
senhor me trouxe a esta terra para a possuir, porque, pela maldade destas
gerações, é que o senhor as lança de diante de ti... para confirmar a palavra
que o senhor, teu Deus, jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó” (Deuteronômio
9.4-5). Em outras palavras, esta mortandade não estava relacionada à justiça
humana, era um juízo de Deus. Por meio de sua idolatria, os amorreus provocaram
a ira de Deus durante séculos. E o fizeram com tamanha intensidade, que séculos
depois o rei Acabe foi comparado aos amorreus — ele “fez grandes abominações,
seguindo os ídolos, segundo tudo o que fizeram os amorreus, os quais o senhor
lançou de diante dos filhos de Israel” (1 Reis 21.26).
Uma
implicação disto para nós é o fato de que, como igreja de Jesus Cristo, não podemos imitar a Israel. A igreja não é o
instrumento do juízo de Deus no mundo; é o instrumento de evangelização e
reforma do mundo. Não temos uma identidade étnica, política ou geográfica.
Somos “peregrinos e forasteiros” (1 Pedro 2.11). O lidar de Deus com os
israelitas foi singular na história da redenção. Ele os escolheu e os governou
como uma demonstração de sua santidade, justiça e graça eletiva entre as
nações. Mas à igreja Ele diz: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino
fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse
eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18.36).
Portanto, tremamos ante as
prerrogativas de Deus — julgar e destruir. Amemos nosso inimigo e oremos por
aqueles que nos perseguem. Testemunhemos (se necessário, com a perda de nossa
vida) que “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”
(Hebreus 13.14).
Nenhum comentário:
Postar um comentário