terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Evangelho Segundo Mateus

AUTOR E OBJETO DO EVANGELHO
Com notável unanimidade, a tradição da Igreja tem atribuído desde o séc. II a composição deste Evangelho a Mateus, o publicano (9.9; 10.3), chamado também de Levi, filho de Alfeu (Mc 2.14; Lc 5.27), o coletor de impostos a quem Jesus chamou e uniu ao grupo dos seus discípulos (10.1-4; Mc 3.13-19; Lc 6.13-16).
Tem-se afirmado que Mateus (Mt) é por excelência o Evangelho da Igreja. Escrito para instruir acerca de Jesus Cristo o novo povo de Deus, apresenta-se diante do leitor como um texto de estrutura basicamente didática.


CARACTERÍSTICAS TEOLÓGICAS E LITERÁRIAS
É evidente que Mateus está mais interessado em coligir e apresentar na sua obra o pensamento de Jesus do que em dar-lhe um conteúdo puramente narrativo. Conseqüência desse enfoque é o fato de que o evangelista nos transmitiu um quadro enriquecedor da cristologia da Igreja primitiva, quadro que poderia ser resumido em quatro pontos fundamentais:
(1) Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, é o Messias esperado pelo povo judeu.
(2) Em Jesus, descendente de Davi (1.6; 20.30-31; 21.9), cumprem-se as profecias messiânicas do Antigo Testamento.
(3) O povo judeu não chegou a compreender cabalmente a categoria espiritual nem a profundidade da obra realizada por Jesus em obediência perfeita à vontade de Deus.
(4) A rejeição de Jesus, o Cristo, por parte do Judaísmo palestino, projetou a mensagem evangélica ao mundo gentio, revelando desse modo o seu sentido universal.
Um traço característico deste primeiro Evangelho é a sua contínua referência ao Antigo Testamento, com o objetivo de demonstrar que as Escrituras têm o seu pleno cumprimento em Jesus (1.22-23; 2.15,17-18,23; 4.14-16; 8.17; 12.17-21; 13.35; 21.4-5; 27.9-10). Mateus, mais do que Marcos e Lucas, faz citações abundantes da Lei e dos Profetas (5.17-18; 7.12; 11.13; 22.40) e, com freqüência, da fé em tradições e práticas religiosas dos judeus vigentes na época (cf., entre outras, 15.2; 23.5,16-23).
Mateus também nos apresenta Jesus como o intérprete infalível das Escrituras. Ele é o Mestre sem igual, que a partir da verdade e da autenticidade descobre a falsidade de certas atitudes humanas aparentemente piedosas, mas, na realidade, cheias de avidez para receber o aplauso público (6.1). Recordemos a crítica de Jesus quanto a dar esmolas a toque de trombeta (6.2-4), a respeito da vaidosa ostentação das orações feitas nos cantos das praças (6.5-8; 23.14) e a hipocrisia dos jejuns praticados com o propósito primordial de impressionar o povo (6.16-18).
Especialmente interessante é o tratamento que Mateus dá ao aspecto pedagógico da atividade de Jesus. Enquanto Marcos e Lucas associam as palavras do Senhor à ocasião em que foram pronunciadas, Mateus as dispõe de modo ordenado. Freqüentemente as reúne em amplas unidades discursivas, compostas com o objetivo de ajudar os crentes a aprendê-las de memória. Cinco delas, muito conhecidas, destacam-se pela sua extensão:
O sermão do monte 5.3—7.27
O apostolado cristão 10.5-42
O reino dos céus 13.3-52
A vida da comunidade cristã 18.3-35
O final dos tempos 24.4—25.46
Estes sermões ou discursos aparecem no Evangelho precedidos e seguidos por determinadas fórmulas literárias que servem de marco dramático a cada composição (5.1-2 e 7.28-29; 10.5 e 11.1; 13.3 e 13.53; 18.1 e 19.1; 24.3 e 26.1). Por outro lado, não são estes os únicos discursos. Mateus contém muitos outros ensinamentos e exortações de Jesus aos seus discípulos (p. ex., 8.20-22; 11.7-19,27-30; 12.48-50; 16.24-28; 22.37-40), assim como admoestações dirigidas a escribas e fariseus (22.18-21; 23.1-36) ou, inclusive, a Jerusalém (23.37-38) e a algumas cidades da Galiléia (11.20-24).
O tema predominante na pregação do Senhor é o Reino de Deus (9.35), geralmente designado neste Evangelho como “reino dos céus” e focalizado na sua dupla realidade, presente (4.17; 12.28) e futura (16.28). A proclamação da proximidade do Reino é também o anúncio de que Jesus encarrega os seus discípulos (10.7), aos quais, depois de ressuscitado, prometeu a sua permanência duradoura no meio deles: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (28.20).
Mateus escreve a sua obra seguindo, em linhas gerais, o esquema de Marcos, mesmo quando a cada passo põe o seu selo pessoal nos textos que redige. Quanto aos materiais narrativos utilizados, se bem que muitos sejam comuns a Marcos e Lucas, há cerca de um quarto que Mateus emprega de maneira exclusiva.
Os relatos de Mateus, mais concisos que os de Marcos, apresentam um rigoroso e belo estilo e mantêm certo tom cerimonial que induz a pensar num escritor de formação rabínica. Para isso contribui a presença no texto de não escassos elementos literários que são tipicamente hebraicos. 


LÍNGUA, TEMPO E LUGAR DE COMPOSIÇÃO
Este Evangelho, como todos os livros do Novo Testamento, chegou a nós em língua grega. Desde os primeiros séculos da vida da Igreja, vem-se discutindo a possibilidade de que fora redigido inicialmente em aramaico e traduzido mais tarde para o grego; mas não há nenhuma fundamentação histórica de ter sido assim. O certo é que o texto grego de Mateus é o único que se conhece. Com respeito ao lugar e tempo da composição do Evangelho, não é possível fixá-los com exatidão. Muitos pensam que pode ter sido escrito em terras da Síria, talvez em Antioquia, depois que os exércitos romanos destruíram Jerusalém no ano 70. 


ESBOÇO:
1. Infância de Jesus (1.1—2.23)
a. Genealogia de Jesus Cristo (1.1-17)
b. Nascimento e infância de Jesus (1.18—2.23)
2. Começo do ministério de Jesus (3.1—4.11)
a. Pregação de João Batista (3.1-12)
b. Antecedentes do ministério de Jesus (3.13—4.11)
3. Ministério de Jesus na Galiléia (4.12—13.58)
a. Começo do ministério (4.12-25)
b. O sermão do monte (5.1—7.29)
c. Atividades de Jesus (8.1—9.38)
d. Instrução dos apóstolos (10.1—11.1)
e. Atividades de Jesus (11.2—12.50)
f. As parábolas do Reino (13.1-58)
4. Ministério de Jesus em diversas regiões (14.1—20.34)
a. Atividades de Jesus (14.1—17.27)
b. Sermão sobre a vida da comunidade (18.1-35)
c. Atividades de Jesus (19.1—20.34)
5. Jesus em Jerusalém: semana da paixão (21.1—28.20)
a. Atividades de Jesus (21.1—23.39)
b. Sermão sobre o final dos tempos (24.1—25.46)
c. Paixão, morte e ressurreição (26.1—28.20)



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